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Não deixe de ler o Conto: "O Turra Mussolé", publicado no dia 7 de Setembro de 2008, o qual, ao cabo de 34 anos da chamada "Revolução dos Cravos" sofreu CENSURA por parte do Ministério da Defesa Nacional, levando-me a deixar de escrever no Jornal da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Stresse de Guerra.


"MENINA DOS OLHOS TRISTES" CANTADO POR ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

AS CRIANÇAS, OS PORCOS E AS GALINHAS

MISS ANGOLA 2009
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A BELÍSSIMA ANGOLANA NELSA ALVES
E faziam-nos acreditar que os negros não tinham Alma...
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Os GE’s (Grupos Especiais) eram recrutados nas sanzalas, treinados, fardados e armados pelo Exército Português. Na generalidade, nativos com um perfeito conhecimento da mata. Não combatiam por idealismo. Quando os interrogava acerca da eventual possibilidade de serem aliciados por um Movimento de Libertação a resposta era invariavelmente a mesma : - Combate por quem der melhores condição !
Raramente combatiam ao lado ou em conjunto com as tropas regulamentares. Enfrentavam o inimigo quase sempre de pé, ao contrário dos portugueses que, por força do hábito nos treinos durante a especialização, se atiravam mecanicamente para o chão assim que ouviam um disparo.
Recebida a mensagem na qual a PIDE nos informava as coordenadas dum aglomerado populacional controlado por elementos do MPLA, treinados por dois guerrilheiros cubanos no Mavué (distrito do Cuando-Cubango), o Comando instalado em Cangamba decidiu desta vez enviar um Grupo de Combate composto por GE’s com o objectivo de os aprisionar. Partiram de Cangombe e a operação tinha uma previsão com a duração de mais ou menos quatro dias. Dois dias até atingirem o objectivo e outros dois para o regresso. A progressão era efectuada a pé naquela imensa chana salpicada por algumas árvores. Nessa operação o alferes Milícias e o soldado radiotelegrafista Antenas apostaram acompanhá-los. Sabia-se, contudo, o quão difícil se tornava progredir (andar) na mata ou na chana a par com aqueles negros de etnia luxaze (corpos esguios e pernas muito finas) mas naturalmente possuidores duma resistência física extraordinária. Tornou-se, contudo, numa experiência interessantíssima. Os GE’s demonstravam um enorme respeito pela inferioridade dos brancos relativamente ao seu andamento e repartiam generosamente os alimentos e a água. Normalmente, atingido o objectivo, o acampamento era incendiado e todos os homens que lá se encontravam abatidos. Depois os GE’s conduziam até à sua sanzala apenas as mulheres “válidas” e as crianças “saudáveis”. Carregavam também os utensílios domésticos e os animais encontrados, distribuindo-os posteriormente entre si.
Nesta operação o acampamento foi facilmente encontrado e imediatamente incendiado com bazucas. Os cubanos e o chinês já haviam traiçoeiramente desaparecido. Os homens foram sumariamente abatidos e procedeu-se à selecção das mulheres, crianças e animais. Reuniram-se os poucos objectos encontrados incólumes ao fogo.
Por norma a progressão só se fazia durante o dia. À noite acampava-se, aguardando-se pelo nascer do sol.
O papel do alferes e do soldado radiotelegrafista havia sido até ao momento o de meros expectadores.
Trouxeram consigo cerca de dez mulheres, a maior parte carregando às costas os seus filhos de tenra idade, dois porcos e meia-dúzia de galinhas, para além de tachos, panelas e algumas peças em barro, que complementavam o espólio capturado.
Durante a primeira noite em que foi improvisado o acampamento as mulheres choravam a perda dos homens : avós, pais, maridos, irmãos ou filhos deficientes, cujos corpos queimados ou mutilados lá ficaram cobertos de moscas, mosquitos ou formigas enquanto tardasse a chegada das aves de rapina.
As crianças choravam : talvez com fome, quiçá com alguma dor. Os porcos grunhiam, os galos cantavam e as galinhas cacarejavam ruidosamente ecoando no silêncio e no escuro daquela imensa chana, tornando-se compremetedor. Mesmo quando se fumava um cigarro havia sempre o cuidado de ocultar a sua ponta incandescente, pois aquela, por ocasião da “pucha”, tornava-se demasiado luminosa e era visível, durante a noite, a uma distância muito considerável.
Gerou-se grande agitação e troca de palavras no dialecto luxaze, as quais se entendiam apenas como discordantes e coléricas. O alferes e o soldado brancos cedo se aperceberam dos reais motivos subjacentes à discussão, confirmados por um GE que “arranhava” a língua portuguesa. Os GE’s entenderam como insuportável o choro persistente das crianças – apenas das crianças – e já haviam decidido “democraticamente”, duma forma seca e cruel, simplesmente abatê-las. Consideravam de maior utilidade os porcos e as galinhas. Começaram a amordaçar o focinho dos porcos e a atarem com tiras de trapos os bicos dos galináceos.
O soldado Antenas ficou petrificado perante aquele cenário que se apresentava como macabro, não sabendo como reagir. O alferes Milícias, esse, dotado dum inusitado sangue-frio e desenfreada determinação, gritou ao líder daqueles frios assassinos :
- Se têm de matar algo ou alguém que sejam primeiro os porcos e as galinhas ! As crianças... NÃO ! Se assim não for, eu não saio daqui vivo, mas a minha G-3 fará fogo sobre vocês !
Os ânimos acabaram por acalmar. O líder dos GE’s, numa atitude respeitosa, deu de imediato uma ordem firme quanto imperceptível, após o que quatro negros empunharam as suas facas de mato. No dia seguinte, os predadores devem-se ter deliciado com duas boas carcaças de suínos bem gordos e quatro apetitosos galináceos do “campo”.

Embora estes actos hediondos chegassem a ser praticados pelas tropas regulares portuguesas, já nesta altura se verificava, por parte das tropas negras, um desprezo atroz pela gente da sua raça. Recorde-se o que aconteceu após o 25 de Abril quando estalou a guerra civil.
Relativamente aos portugueses brancos mais ignorantes, alguns desses, os que defendiam a tese de que os negros não tinham alma, viriam a casar com negras e mulatas e passearam pelos jardins com os seus queridos netinhos de côr.





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Já lá vai o tempo do "Currículo"... Espiritualista (estudioso, mas não fanático). Voluntariado