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Texto publicado no Jornal da “APOIAR-Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Perturbações Pós-Traumáticas do Stresse de Guerra”
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PAI, perdoai-lhes...porque ainda não sabem o que fazem!
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É ainda sociologicamente incalculável o poder dos órgãos de comunicação social. Neste princípio de milénio o Homem já não está sujeito às demoras e às atribulações (assaltos, p.ex.) que poderiam alterar mensagens e notícias, percorrendo, por vezes, milhares de quilómetros de matas e desertos para as transportar na sua memória ou em pergaminho e esperar também longamente pelas suas respostas e repercussões.
Actualmente digitam-se alguns números e letras, e muito embora ainda sejam numerosas as equipas de seres humanos indispensáveis para que se efectue uma razoável transmissão ou recepção à distância, o hardware é de ano para ano cada vez mais pequeno e mais leve, contudo mais sofisticado e o software cada vez mais surpreendente, chegando a revelar-se, para algumas pessoas, mesmo assustador...
Assim, são sobretudo os órgãos de comunicação social quem tem tirado maior partido das novas tecnologias, as quais “intencionalmente bem conduzidas” lhes têm vindo a conferir um enorme poder (p.ex: na política; na publicidade...).
É assim que as “massas” ou a “carneirada” – ou outros termos com mais ou menos carga pejorativa – continuam a ser manipuladas tal como outrora, embora mais rápida e eficientemente.
Tem-se escamoteado sistematicamente o facto de havermos estado embrenhados até há bem pouco tempo numa guerra colonial durante tantos anos. É sabido que daquela guerra muita gente tirou partido...Aos cachopos lavaram o cérebro e a outros apontaram-lhes com os temores da entrega aos miminhos da polícia política... Uns, de condição sócio-económica mais elevada, instalaram-se em Paris ou procuraram a “cunha” que lhes permitisse, não fugindo, cumprir a missão com a especialidade de Escriturário, Operador de Cripto ou outra considerada de menor risco; outros, com poucos ou mesmo sem nenhuns recursos fugiram também para Paris ou Argel – estas duas cidades surgem meramente a título de exemplo – mas vivendo de expedientes, correndo grandes riscos e, tal como aqueles que embarcaram para as colónias, sofrendo intensamente não só o tormento físico e psicológico como também, e sobretudo, aquela dor tão portuguesa chamada saudade.
A minha incorporação obrigatória ocorreu em Janeiro de 1970, fui mobiizado para Angola em Dezembro (passando o primeiro Natal a bordo) – os outros dois foram “festejados” na mata – e regressei em Janeiro de 1973. Temi e tremi com o aproximar da data da incorporação. Não era somente o facto de ir enfrentar o desconhecido. Era também, por exemplo, uma carreira profissional promissora inevitavelmente interrompida, adiada ou mesmo frustrada. Jamais concordei com a deserção, por entender que a “oposição”, a “resistência” ou o também chamado “esclarecimento político das massas” deveria ser aplicado no palco daquela maldita guerrilha. Contudo, viriamos, com tristeza e até algum sentimento de revolta, a ouvir os aplausos dirigidos aqueles que orgulhosamente diziam que recusaram a guerra (qual recusaram, fugiram !)
É ainda sociologicamente incalculável o poder dos órgãos de comunicação social. Neste princípio de milénio o Homem já não está sujeito às demoras e às atribulações (assaltos, p.ex.) que poderiam alterar mensagens e notícias, percorrendo, por vezes, milhares de quilómetros de matas e desertos para as transportar na sua memória ou em pergaminho e esperar também longamente pelas suas respostas e repercussões.
Actualmente digitam-se alguns números e letras, e muito embora ainda sejam numerosas as equipas de seres humanos indispensáveis para que se efectue uma razoável transmissão ou recepção à distância, o hardware é de ano para ano cada vez mais pequeno e mais leve, contudo mais sofisticado e o software cada vez mais surpreendente, chegando a revelar-se, para algumas pessoas, mesmo assustador...
Assim, são sobretudo os órgãos de comunicação social quem tem tirado maior partido das novas tecnologias, as quais “intencionalmente bem conduzidas” lhes têm vindo a conferir um enorme poder (p.ex: na política; na publicidade...).
É assim que as “massas” ou a “carneirada” – ou outros termos com mais ou menos carga pejorativa – continuam a ser manipuladas tal como outrora, embora mais rápida e eficientemente.
Tem-se escamoteado sistematicamente o facto de havermos estado embrenhados até há bem pouco tempo numa guerra colonial durante tantos anos. É sabido que daquela guerra muita gente tirou partido...Aos cachopos lavaram o cérebro e a outros apontaram-lhes com os temores da entrega aos miminhos da polícia política... Uns, de condição sócio-económica mais elevada, instalaram-se em Paris ou procuraram a “cunha” que lhes permitisse, não fugindo, cumprir a missão com a especialidade de Escriturário, Operador de Cripto ou outra considerada de menor risco; outros, com poucos ou mesmo sem nenhuns recursos fugiram também para Paris ou Argel – estas duas cidades surgem meramente a título de exemplo – mas vivendo de expedientes, correndo grandes riscos e, tal como aqueles que embarcaram para as colónias, sofrendo intensamente não só o tormento físico e psicológico como também, e sobretudo, aquela dor tão portuguesa chamada saudade.
A minha incorporação obrigatória ocorreu em Janeiro de 1970, fui mobiizado para Angola em Dezembro (passando o primeiro Natal a bordo) – os outros dois foram “festejados” na mata – e regressei em Janeiro de 1973. Temi e tremi com o aproximar da data da incorporação. Não era somente o facto de ir enfrentar o desconhecido. Era também, por exemplo, uma carreira profissional promissora inevitavelmente interrompida, adiada ou mesmo frustrada. Jamais concordei com a deserção, por entender que a “oposição”, a “resistência” ou o também chamado “esclarecimento político das massas” deveria ser aplicado no palco daquela maldita guerrilha. Contudo, viriamos, com tristeza e até algum sentimento de revolta, a ouvir os aplausos dirigidos aqueles que orgulhosamente diziam que recusaram a guerra (qual recusaram, fugiram !)
Relembro hoje, e aproveito para prestar homenagem que este país ainda lhe continua a sonegar, aquele Operador de Cripto que combateu o fascismo em pleno cenário de guerra : localidade de Cangamba, situada no leste de Angola e que acabaria assassinado por envenenamento após haver ingerido uma refeição premeditadamente condimentada pelos excelentes “cozinheiros” da PIDE-DGS no Hotel da cidade do Luso.
Nunca me imaginei a admitir publicamente que algo mais terrível do que aquela guerra pudesse vir a afectar física e psicologicamente uma geração. E assim encontro aqui mais um fortíssimo motivo de meditação para aqueles que viriam a ser catalogados como sofrendo com a nova doença : Stresse de Guerra. São os nossos cachopos que se entregam à droga, à prostituição, à promiscuidade e que vão viver em tendas de campismo num qualquer Casal Ventoso e, a ressacar, encontramo-los por todo o lado a “arrumar” carros. Acabam irremediavelmente nas Overdoses, nas Hepatites, nas Sidas, nas Tuberculoses...
Existem milhares de seres humanos a sofrer horrorosamente por haverem participado de forma mais ou menos activa naquele inferno. A maior parte deles estão seriamente arrependidos dos actos a que as circunstâncias os forçaram a praticar. É urgente que os convençamos de que os encontros entre dois dos maiores responsáveis : Marechal António de Spínola e Comandante do PAIGC Nino Vieira foram reais e o significado – sobretudo ao nível psicológico, espiritual ou qualquer termo mais rebuscado que lhe queiram atribuir – desses actos até então impensáveis deveria constituir grande reflexão por parte de cada ex-combatente e contribuir finalmente para a tão desejada paz de espírito dos seres humanos que vivem há tanto tempo com as consciências injustificadamente atormentadas :
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Armas e Abraços
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Com as verdes G-3 sempre às costas
Ou só belicamente marcando
As fronhas das nossas almofadas;
Humanos são cortados às postas
Outros sopram forte atiçando
Velhas sanzalas incendiadas.
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E após alguns anos passados
Descobrem afinal serem iguais
O branco, o negro ou outra cor.
Agora julgam-se os pecados
Improvisam-se os tribunais
Onde o juíz maior é o Amor.
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Soldado ou Arrumador ?
Chegado acelerado àquele Centro Comercial
Indolentes acenos com os braços p’ ra arrumar
Mãos trémulas com um pão embrulhado em jornal
O rosto envelhecido sem anos para adivinhar
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E eu mais do qu’ alguém detestei aquele inferno
P’ ra onde todos os rapazes eram então mandados
Acabo questionando um tempo mais moderno
Porque vi tremer na guerra humanos mais honrados
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É neste aspecto que julgo como seria de enorme utilidade o poder da comunicação social ao serviço de uma causa tão nobre e enriquecedora : sobretudo quanto aos ensinamentos que poderia proporcionar aos mais jovens e, quanto aos outros, aqueles a quem foram feitas “lavagens ao cérebro” e vivem hoje atormentados e com as suas cabeças debaixo da areia, as possam finalmente levantar bem alto, merecendo o respeito da presente geração, enquanto vamos acreditando que noutra dimensão a que os nossos satélites ainda não têm acesso uma potentíssima voz divina continua a gritar ecoando por todo o firmamento :
- PAI, perdoai-lhes porque ainda não sabem o que fazem !
2 comentários:
Olá amigo?
Tambem faco parte dessa grande familia...Estive no Norte de Angola 1962/64... A guerra era todos os dias.
Com as minhas forte emoções
Eu, com toda a atencäo, com o corpo bem colado ao terreno, só disparava quando me sentia em perigo ou quando algum dos meus camaradas ficavam nessa situação.
tambem Tenho um blogo noGoogle mas n#o está a funcionar.
Observa a linha de fogo, com o espelho que sempre tinha comigo. Centenas de balas zumbiam por todo o lado. Mas pensava, porque tenho que disparar? Afinal um carregador só tem 20 balas e nós só transportávamos quatro. Este pensamento racional não deixava que aquele chumbo que tinha de poupar fosse desperdiçado inutilmente, atirando sobre tudo.
Os nossos Corações, numa selvagem pulsação, injectavam o sangue veloz pelas artérias numa forma feroz, correndo com uma enorme forca, dando centenas de voltas, em movimentos costante, nos nosso crebero, que por vezes ficava atordoado.
Rastejamos, coladinhos ao terreno, como vermes sobre a terra vermelha e sangrenta. Circulam nesta terra de vida minúsculas bactérias e a ajudar ao sofrimento as ferradelas das nossas amigas, fumigas vermelhas. A febre da carraça essas também era para um problema, ali deitados éramos presas fáceis das seus ataques. Muitos ficaram a sofrer para sempre e outros enlouqueceram sendo dados como incapazes de continuarem nesta guerra cruel e sangrenta. Não era só a formigas os mosquitos que nos sugavam o sangue e para recompensar injectavam o seu veneno que originava algumas febres assim como o paludismo, a doença do sono que era causada pela mosca zetzet.
Nestes momentos de metralha, a minha alma grita bem alto pára… pára... pedindo para que tudo pare, implorando, e suplicando calma. Como soldado não me conformo. Com vontade de Chorar, sentidamente num grande pranto, que se expressa no meu coração!
Tmmbem tenho um blogo no Google, mas näo está funcional B:C:Especiais 357 disse...
Mas tenho um outro activo no MSN
Um Abraco
manuel
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