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Não deixe de ler o Conto: "O Turra Mussolé", publicado no dia 7 de Setembro de 2008, o qual, ao cabo de 34 anos da chamada "Revolução dos Cravos" sofreu CENSURA por parte do Ministério da Defesa Nacional, levando-me a deixar de escrever no Jornal da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Stresse de Guerra.


"MENINA DOS OLHOS TRISTES" CANTADO POR ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

UM ACIDENTE NO NORTE


Embora contrariando as regras estipuladas quanto a viagens nocturnas, continuámos a acelerar no piso molhado daquele asfalto de bermas traiçoeiras, parecendo haverem sido barradas por uma terra vermelha escorregadia como manteiga quente. Estávamos relativamente perto do nosso destino, não existiam tacógrafos que nos denunciassem e também nem sequer era suposto sermos emboscados por uma patrulha da GNR. Assim, decidimos entrar na noite e perfazer os pouco quilómetros que nos separavam do aquartelamento. A uma distância considerável, embora imprecisa, num local onde mais ou menos sabíamos da existência duma ponte que impunha muito respeito atravessar, pois era estreita e sem protecções laterais, avistámos luzes, reconhecendo partirem dalguns projectores que constantemente se agitavam. Mas não nos detivemos. Continuámos a marcha com cautela, preparados para saltar da viatura a qualquer momento. Alguém terá sugerido ser mais prudente estacionar, o que prontamente fizemos. Ás viaturas foram desligados os motores e os faróis, colocámos os cinturões com as cartucheiras à cintura, introduzimos balas nas câmaras das G-3 e fazendo girar as patilhas da segurança para a posição de tiro de rajada. Alguns camaradas colocaram, dependuradas nos ombros e nos cinturões, algumas granadas. Tudo a postos para qualquer eventualidade. Não tínhamos rádio. Prosseguimos, então, a viagem, embora muito mais devagar, cautelosos e nervosos.
Já perto do objectivo avançámos a pé, junto às bermas da estrada, encharcados pela chuva que teimava em cair copiosamente. Progredindo com prudência mas com vigor acabámos finalmente por avistar duas viaturas Mercedes-Benz e alguns militares que andavam de um lado para o outro, como tontos. Dois deles transportavam os projectores, ora fazendo incidir os seus focos para o ar, ora para a estrada, ora para parte alguma, tal era o desespero deixado transparecer nas suas irrequietas movimentações, em atitudes de completa impotência perante um cenário que se nos afigurou como terrível. Um dos camiões pertencentes à sua pequena coluna militar, havia, algumas horas antes, galgado a tão temível e sinistra ponte com mais ou menos vinte metros de altura. A viatura encontrava-se imobilizada, com as rodas voltadas para cima, enquanto o caudal barrento lhe ia lambendo com sofreguidão a carcaça, tentando empurrá-la. Um dos rapazes que transportavam os projectores apontou o seu lá para baixo e, imóvel, balbuciou baixinho, como que a falar para consigo próprio :
- Ali...debaixo daquele monstro...metálico...e já gelados...estão...vinte e oito...camaradas nossos...

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Já lá vai o tempo do "Currículo"... Espiritualista (estudioso, mas não fanático). Voluntariado