Medindo um metro e setenta e cinco centímetros de altura, o meu peso situava-se em cinquenta e nove quilos. Decorria o mês de Novembro de 1972 e a comissão de serviço terminava no mês seguinte. Havia ainda pela frente um Natal e uma passagem de ano, eventos que já não provocavam tanta dor como os anteriores. Agora sim, sabia que seria o último Natal , desta vez passado em Luanda e, no dia vinte e oito daquele Dezembro terminava, física e geograficamente a presença naquele martírio com a duração de vinte e quatro meses. Psicologicamente, já o sabia, haveria de me afectar até ao resto da minha vida.
A Ração de Combate tornou-se, contudo, numa das melhores memórias que o tempo de guerra ofereceu.
Mal alimentado, deslocava-me até à sanzala e comprava ovos. No bar dos soldados adquiria a cerveja preferida, a Nocal, fazia uma gemada e tomava-a pois sabia que aquele composto representava um remédio fortificante de alto teor calórico e nutritivo.
Uma Ração de Combate continha latinhas de conserva e sumos enlatados que substituiam uma refeição equilibrada.
Sempre que os meus camaradas partiam para uma operação na mata, invariavelmente por volta das 5 horas da manhã, lá me encontrava eu confortando-os, brincando na medida do aceitável, olhando-os um a um, perguntando-me a mim próprio qual deles regressaria cadáver, cego, mutilado ou louco... Geralmente a despedida era um acto mudo. Apertava com mais ou menos força um dos braços daqueles rapazes carregados como se fossem para uma expedição. Ou , simplesmente, colocava-lhes a mão sobre um dos ombros, sempre sem palavras, mas que significava : - Coragem amigo, cá te esperamos !...
A cada um daqueles rapazes era distribuída uma ou mais rações de combate, conforme os dias previstos para a operação na mata. E se um deles não gostava de sumo de pêssego trocava-o por uma lata de atum com aquele que detestava aquele peixe. Efectuadas as trocas entre si, sobravam sempre umas latinhas que, no entender de alguns, só serviam para os carregar ainda mais. Por isso, valia a pena sujeitar-me (não era só eu, evidentemente) àquela cena angustiante, mesmo que o cacimbo ainda molhasse bastante, para conseguir umas latinhas do que quer que fosse. Era também o instinto de sobrevivência a funcionar.
No verso duma fotografia enviada, naquela ocasião, à família encontrava-se a inscrição : “ Aqui o Pinto Calçudo engana a malvada”.
Bebendo um delicioso suminho de pêssego e na mão esquerda agarrando com força, como temendo que fugisse, um pedaço de pão duro e seco.
A Ração de Combate tornou-se, contudo, numa das melhores memórias que o tempo de guerra ofereceu.
Mal alimentado, deslocava-me até à sanzala e comprava ovos. No bar dos soldados adquiria a cerveja preferida, a Nocal, fazia uma gemada e tomava-a pois sabia que aquele composto representava um remédio fortificante de alto teor calórico e nutritivo.
Uma Ração de Combate continha latinhas de conserva e sumos enlatados que substituiam uma refeição equilibrada.
Sempre que os meus camaradas partiam para uma operação na mata, invariavelmente por volta das 5 horas da manhã, lá me encontrava eu confortando-os, brincando na medida do aceitável, olhando-os um a um, perguntando-me a mim próprio qual deles regressaria cadáver, cego, mutilado ou louco... Geralmente a despedida era um acto mudo. Apertava com mais ou menos força um dos braços daqueles rapazes carregados como se fossem para uma expedição. Ou , simplesmente, colocava-lhes a mão sobre um dos ombros, sempre sem palavras, mas que significava : - Coragem amigo, cá te esperamos !...
A cada um daqueles rapazes era distribuída uma ou mais rações de combate, conforme os dias previstos para a operação na mata. E se um deles não gostava de sumo de pêssego trocava-o por uma lata de atum com aquele que detestava aquele peixe. Efectuadas as trocas entre si, sobravam sempre umas latinhas que, no entender de alguns, só serviam para os carregar ainda mais. Por isso, valia a pena sujeitar-me (não era só eu, evidentemente) àquela cena angustiante, mesmo que o cacimbo ainda molhasse bastante, para conseguir umas latinhas do que quer que fosse. Era também o instinto de sobrevivência a funcionar.
No verso duma fotografia enviada, naquela ocasião, à família encontrava-se a inscrição : “ Aqui o Pinto Calçudo engana a malvada”.
Bebendo um delicioso suminho de pêssego e na mão esquerda agarrando com força, como temendo que fugisse, um pedaço de pão duro e seco.
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